Cada pensamento a irrita. Está desgastada.
Uma noite mal passada é igual a uma doença. A boca está amarga. O estômago não perdoa.
Tem um coração na cabeça. Vivo. A latejar.
Vai à janela.
Está naqueles dias em que se irrita sozinha. Em que tem coisas para fazer mas não lhe apetece. Em que o apelo ao dever não fala mais alto. Em que a amargura do regresso é mesmo amarga.
Veste o roupão e suspira.
Nada está completamente mal mas também não está completamente bem. Tudo está meio feito e outra metade está por fazer. Um bocadinho de quase nada e muito pouco de quase tudo.
Dá uma volta pela casa e volta à janela.
É assim a vida, dizem os velhos. Não se pode ter tudo! Aprende-se a viver com quase nada. É assim que se dá valor ao que se tem.
Haja amor. Haja saúde. Haja alegria. Haja qualquer coisa. Simplesmente aja.
Faz café.
Aja como se não houvesse amanhã. Aja agora. Antes que seja tarde. Antes que o sol se ponha. Antes que os talheres estejam na mesa, que as luzes se liguem e a chama se apague.
Aja sempre. Sempre que necessário. Quando a cabeça o mandar e quando o coração lho pedir. Não pare.
Vai para a sala.
Não pare nunca. Mesmo que esteja cansado. Mesmo que não faça sentido. Mesmo que não tenha motivo. Mesmo que lhe doa o corpo.
Senta-se.
Pare para parar de pensar. Pare para decidir. Pare para poder respirar. Pare só por parar. Porque precisa. Pare para criar.
Começa a escrever.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Dizei de vossa justiça minha gente :)